sexta-feira, 18 de março de 2011

Boa Notícia – O “A Má Noticia” vai as Compras

  
"A Má Notícia" | Belmiro de Almeida | óleo sobre tela | 1897 - Acervo Museu Mineiro/SUM




"A Má Notícia" - em exposição no Minas Shopping


O Museu e o Shopping



    Dois pólos, dois campos aparentemente distintos em suas dinâmicas. Lugares extremos. Um guarda, fechado em vitrines, o outro, em vitrines abertas que se renovam por estarem presas a um círculo interminável, o círculo do consumo - Tudo é consumo - O mundo se consome em si e aos poucos. Desde o mais simples objeto, aparentemente preso, morto e quase fóssil do Museu até as vitrines do Shopping. Caixas vivas que, muitas vezes, sacrificam nossos olhos saturados de imagens de um mundo que se renova e se consome diariamente nas vitrines - da cultura do shopping.

   A dinamica do shopping, marcada pelo signo contemporâneo da pressa, nos obriga a escolher, muitas vezes, aquilo que no átimo do ato da compra,  teremos a confortante sensação  de realização, às vezes, até  de poder - a cultura do shopping  é o poder da compra, do potencial de consumo de cada indivíduo.

     Do outro lado, no Museu, podemos conhecer nossa história. Dentro do espaço de consumo do Museu nos aproximarmos dos objetos que são caros, importantes da formação de um povo, do nosso povo. Objetos que podem também, efetivamente, para além do consumo,  nos conduzir à escolhas importantes na nossa realização - conhecer a nossa cultura é uma maneira de nos apropriamos do poder – de ser.

   O Museu Mineiro, Instituição voltada para a formação educativa e cultural da população, funciona no antigo Prédio do Senado, localizado a Av. João Pinheiro no 342. Por confundir-se com os outros prédios públicos em seu entorno e por estar impregnado pela história administrativa destes órgãos, o Museu Mineiro é pouco reconhecido como um lugar de lazer aberto ao público, apesar de inserido na malha central da cidade,  local de grande fluxo de transeuntes.

    Com o intuito de criar uma aproximação com a população de Belo Horizonte, o Museu Mineiro criou o Projeto "Boa Noticia: o "A má notícia vai às compras". Um projeto que  irá apresentar  para a população cidade, dentro dos espaços comerciais,  mostras  compostas por peças importantes no acervo do Museu Mineiro, da Superintendencia de Museus e da Secretaria de Estado de Cultura.

     A obra que deu inicio ao conjunto de exposições que compoem o Projeto, a pintura de  título "A má notícia", óleo sobre tela de autoria de Belmiro de Almeida, uma obra ícone da coleção do Estado.

     O projeto "Boa notícia: o 'A má notícia' vai às compras", através da parceria do Museu Mineiro com o Minas Shopping faz parte de um programa que visa estreitar as relações da população de Belo Horizonte e o Museu Mineiro, apresentando-o à população e convidando-a a visita-lo. 



 "Guerra dos Emboabas" | Caribé | óleo s/ tela | 1962 - Acervo Museu Mineiro/SUM

obra em exposição no Minas Shopping



"Cenas do Garimpo" | Di Cavalcanti | óleo s/ tela | 1957 -  Acervo Museu Mineiro/SUM

obra em exposição no Minas Shopping


TAPETE DE SERRAGEM -  HOMENAGEM AO CINQUENTENÁRIO DO ROMANCE GRANDE SERTÃO: VEREDAS de  JOÃO GUIMARÃES ROSA



Exposição de tapete de serragem construído pelos professores da FAOP: Ana Fátima Carvalho, Andreia Pereira de Miranda, Bernardo de Vasconcelos Bastos, Gabriela Rangel, Ana Célia Teixeira, Jorge Luiz da Silva Araújo, Lau Caminha, Leide Luana P. de Miranda, Reginaldo Arlindo Carvalho  e Terezinha Rosa Laerte executaram o “Tapete G. Rosa e Poty Lazzarotto”.







projetos para o tapete / planta da praça central do Shopping


Se algumas culturas, notadamente a ocidental, trouxeram para o objeto de arte – o quadro – o espaço idealmente construído, outras culturas guardam, na construção e no uso de tapetes, uma narrativa estética da natureza, do lugar.

A natureza, transformada e narrada através do objeto estético – o tapete – poderá remeter o homem ao  lugar de origem. Os povos orientais se ajoelham e oram sobre o tapete repleto de ícones e símbolos: flores, animais, descrição de relevos, rios,  escritos e orações. Voltado para o oriente – lugar onde nasce a luz – o tapete é o território mítico do  artesão narrador que ilustra, com arte, a sua cultura.

A construção de um tapete parece estar ligada à vontade de se reinventar o lugar ideal.  E é, também, a maneira de revisitar a natureza como um território a ser descrito cartesianamente, nomeado e refeito em objeto estético. A natureza reinventada é tocada pelo homem e, ali, é tecido um paraíso transportável, móvel e passível de ser levado a todas as partes, de maneira a  permitir, simbolicamente,  que se esteja sempre próximo do lugar desejado, ou então, que permita pensar que se veio de lugar idílico.

Eis o paraíso. Construído, reconstruído, estendido, todos os dias, o tapete guarda e transporta em silêncio o som dos passos e, no desenho de sua natureza, acolhe a evocação de imagens e histórias que tocam a sensibilidade.

Ouro Preto, uma das cidades matriciais na formação do nosso estado, do nosso Pais, guarda em suas ruas os passos dos homens  ali  viveram. Por entre casarios, igrejas, chafarizes, ruas, ladeiras, becos e  vielas, no tortuoso espaço da cidade, ecoa a história. Sob arco do céu,  sob o céu do teto das igrejas daquela cidade, formou-se o surgimento do que seria a mais importante manifestação  do barroco no Brasil. Um testemunho da história do homem eternizado pela arte.

Da origem de sua história, Ouro Preto guarda reverente tradição. Para a passagem da procissão de “Corpus  Cristi”, as ruas  da cidades são cobertas com grandes extensões de tapetes coloridos criados pelas pessoas da comunidade. Os tapetes - executados com a utilização de flores, folhas, areias, serragem, pigmentos de rocha e todo o material que pode ser tratado plasticamente pelos artistas e pelas pessoas da comunidade - são impregnados de imagens e ícones que narram o sentimento religioso dos indivíduos envolvidos. Incrustado na paisagem, o tapete liga dois pontos e estabelece, entre duas Igrejas, porta a porta, passo a passo,  o percurso que deverá ser seguido pelos fiéis durante a procissão da Ressurreição. Na lateral do tapete segue o povo e, sobre ele, o Divino. O espaço arquitetado, inscrito e denotado pelo tapete, a pintura, o trabalho estético - lugar puro e imaculado criado pelos homens -  deixará de existir ao dar  lugar a ação dos fiéis que louvam, para além da criação humana, a criação de Deus: uma representação alegórica da fugacidade da  vida, do homem, o tapete será destruído pela ação da fé.


tapete de serragem sendo produzido

João Guimarães Rosa em seu romance Grande Sertão: Veredas  tece uma das mais importantes narrativas que espelham a paisagem e a alma do povo do sertão – do brasileiro. Poty Lazzarotto, artista, desenhista e gravador, foi parceiro e irmão na construção deste retrato, ilustrando de maneira  sensível os romances, novelas e contos do escritor. Cria uma iconografia onde o traço e a técnica precisa descrevem, como nos textos, a imagem do nosso povo.

O Museu Mineiro da Superintendência de Museus de Minas Gerais, dentro do Projeto “Boa Notícia”, convida a FAOP, por seus professores e artistas, a criar, no espaço expositivo do Museu e na praça central do Minas Shopping um tapete tecido nos moldes da ação popular dos habitantes da antiga Vila Rica. Utilizando das imagens de Poty, os objetos criados comemoram o cinqüentenário da edição de Grande Sertão: Veredas. O projeto trás para o Museu e para o Shopping as diversas manifestações da cultura mineira que são apontadas dentro do acervo da instituição.

Tocado pelo Museu, o tapete toma o caráter de objeto museografado, perde o seu aspecto devocional e adquire um conteúdo que nos permite considerar, por meio desta manifestação da cultura imaterial do povo de Minas, o extraordinário romance da literatura universal.





tapete de serragem em Homenagem ao Cinquentenário do Romance Grande Sertão: Veredas de  Guimarães Rosa - desenhos de Poty Lazzarotto

TAPETE DE SERRAGEM NA SALA DAS SESSÕES NO MUSEU MINEIRO





III "O Museu Guardas" / Tapete de serragem em Homenagem ao Cinquentenário do Romance Grande Sertão: Veredas de  Guimarães Rosa - trechos do Livro e desenhos de Poty Lazzarotto